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Remexendo no passado...III
(...)
Ali ficou, agarrando os joelhos de encontro ao peito, todos os sentidos alerta ao menor ruído.
Silêncio!
Escutou apenas o palpitar descompassado de seu coração e os soluços contidos na garganta.
Sentiu uma dor aguda nos lábios, só agora se apercebia do sabor a sangue, seu sangue.
Mordia o lábio.
Estava escuro ali dentro, esqueceu-se de acender as luzes. Melhor assim.
Não queria olhar-se.
Não queria ver aquela figura derrotada reflectida no espelho.
A porta estremeceu nas suas costas, os murros e a enchorrada de palavrões martelavam do outro lado.
(Ai meu Deus ...e se a porta cede!!);
... pensava com pavor !
Apertou-se mais, enroscou mais o corpo, fincou as unhas nas pernas até deixar de sentir dor.
Ficou quieta, tentou até parar de respirar ...
Mas tudo o que conseguiu foi um tremor descontrolado e uma vontade enorme de fugir, desaparecer.
Estava encurralada como um animal, e assim se sentia!
Pararam os golpes, as palavras e os rugidos.
Desistiu!?
Passaram as horas ..(minutos) mais umas quantas obscenidades misturadas de suplicas, desculpas fasulas, não sentidas ...
E ouviu a porta ...a outra, a da rua, bater!
Pouco a pouco, não sentindo nenhuma reacção ...deixou amolecer o corpo, começou a sentir dor.
Doia-lhe tudo ...pulsos;
pernas, seios, lábios ...cada pedacinho mais intimo de si mesma.
Mas mais ...muito mais que isso. Doia-lhe a alma, o não respeito.
E sentia vergonha de si mesma. Asco, nojo.
Entrou no duche, deixou as lágrimas misturarem-se com a água que saía do chuveiro.
Pegou na escova e no sabão e lavou-se, uma e outra vez.
A sujidade não se deixava lavar.
Ardia-lhe a pele de tanto esfregar, mas apetecia-lhe arrancá-la.
Queria virar-se do avesso, lavar o interior.
Deixou-se ficar ali, naquele espacito pequenito ainda humido do banho, posição fetal, aconchegante ...desejando sê-lo ainda!
Adormeceu!
2 Kommentare:
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