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Lembras aquela noite que 'entrei' na tua varanda?! Há uns anos atrás ...
Levava as palavras nos lábios e o carinho no olhar!
Naquela varanda, pertinho do mar, cheirava a serena maresia;
perfumava tranquilidade e as mais variadas essências de plantas espalhadas pelos cantos; jasmim, rosmaninho, menta, hummmm ...que perfume!
Nada ali faltava.Estava a rede onde te 'perdias em viagens'; cigarro esquecido entre os dedos e o olhar mais além ...
Ah!! ... e a noite, lembras a noite!!
Um manto azul intenso, bordado de milhares de pontinhos brilhantes ...
Lembras!?
Quantas vezes precisei falar-te!! ...e mais que isso, precisei escutar-te.
Naquela noite, assim como as que se seguiram, houve apenas o silêncio das respostas ...e eu, na necessidade de as ouvir ...inventei-as, sussurradas ao ouvido.
Mas sabes!?
Era pouco, sabiam a nada ...
Como a pouco sabiam as conversas na janelinha, tornaram-se insuficientes!
As palavras eram escassas, o vocabulário vago, careciam de sentido.
Doia no peito a impotência de não saber chegar-te o meu sentir, como sou, como penso ...e muitas vezes as lágrimas silenciosas deste lado queimavam a pele, pela falta de ler o olhar.
Faltam-me os gestos, as palavras faladas, sentidas, ouvidas ..falta-me o abraço ...e o deixar-te entrar no olhar, para entenderes, para enfim saberes o que as palavras não dizem.
E os morangos ...sim, faltam-me os morangos tb.Ao longo destes anos, o fruto 'oferecido'. (sorrio)
Quantas vezes com orgulho falei de ti ...enchia a boca, iluminava-se o olhar, e um sorriso desenhava os lábios.
O meu 'Anjo' Amigo ... Homem de saber imenso, com uma meiguice sempre na ponta dos dedos.
O 'Anjo' que me brindava as palavras mais lindas, com paciência infinita derrubou barreiras, desconfianças eportas .. conquistando-me a alma inteira.
Tantas noites 'lutando' com os meus fantasmas até fazer-me sentir menina tantas vezes, mulher outras tantas e ... conseguir todo o afecto de que sou capaz.
Saraste-me feridas.
Secaste-me lágrimas.
Acarinhaste meus sonhos ...
E fizeste-me sentir, uma, outra e cada vez ... especial, querida e amada.
Partilhámos momentos bonitos, intensos, profundos ...
Estiveste 'presente' sempre que precisei dum ombro.E eu sabia, sentia que ali estarias.Palavra amiga, tranquilizadora ...serenando minha alma.
Foram muitos os silêncios falados, e muitas horas de companhia ...
Nos meus silêncios, isolados ..aqueles em que fujo de todos e tudo,eras tu o unico a quem me confiava, aquem deixava entrar no meu mundo ...
Mas não este ultimo ...este foi diferente, frio, medonho e intenso ...mudei.
Amadureci.
Um madurar à força bruta.
Doeu, sabes ...
Magoou imenso ..o não estares aí. Feriu, fere a ausência;
e o não me saberes nem sentires como eu pensava.
(...)
"Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles."
...*...
(...)
Ali ficou, agarrando os joelhos de encontro ao peito, todos os sentidos alerta ao menor ruído.
Silêncio!
Escutou apenas o palpitar descompassado de seu coração e os soluços contidos na garganta.
Sentiu uma dor aguda nos lábios, só agora se apercebia do sabor a sangue, seu sangue.
Mordia o lábio.
Estava escuro ali dentro, esqueceu-se de acender as luzes. Melhor assim.
Não queria olhar-se.
Não queria ver aquela figura derrotada reflectida no espelho.
A porta estremeceu nas suas costas, os murros e a enchorrada de palavrões martelavam do outro lado.
(Ai meu Deus ...e se a porta cede!!);
... pensava com pavor !
Apertou-se mais, enroscou mais o corpo, fincou as unhas nas pernas até deixar de sentir dor.
Ficou quieta, tentou até parar de respirar ...
Mas tudo o que conseguiu foi um tremor descontrolado e uma vontade enorme de fugir, desaparecer.
Estava encurralada como um animal, e assim se sentia!
Pararam os golpes, as palavras e os rugidos.
Desistiu!?
Passaram as horas ..(minutos) mais umas quantas obscenidades misturadas de suplicas, desculpas fasulas, não sentidas ...
E ouviu a porta ...a outra, a da rua, bater!
Pouco a pouco, não sentindo nenhuma reacção ...deixou amolecer o corpo, começou a sentir dor.
Doia-lhe tudo ...pulsos;
pernas, seios, lábios ...cada pedacinho mais intimo de si mesma.
Mas mais ...muito mais que isso. Doia-lhe a alma, o não respeito.
E sentia vergonha de si mesma. Asco, nojo.
Entrou no duche, deixou as lágrimas misturarem-se com a água que saía do chuveiro.
Pegou na escova e no sabão e lavou-se, uma e outra vez.
A sujidade não se deixava lavar.
Ardia-lhe a pele de tanto esfregar, mas apetecia-lhe arrancá-la.
Queria virar-se do avesso, lavar o interior.
Deixou-se ficar ali, naquele espacito pequenito ainda humido do banho, posição fetal, aconchegante ...desejando sê-lo ainda!
Adormeceu!
Dançavam as palavras nos lábios.
E nos dedos os gestos lentos despiam o silêncio;
a lingua movia-se preguiçosamente, convidando ao beijo.
Abri o ziper que cobria o peito,
lentamente, deixando adivinhar o que ali guardo.
Um coração com defeito, faltando-lhe um bocado.
Desnudei o olhar ...
Libertei o toque,
E olhando nos olhos do Tempo ..
apercebi-me que o tempo passou.
E não me esperou.
As minhas saudades sabem diferente das tuas.
Têm a cor da distância.
O frio da ausência ...
E a fome do beijo perdido.
A minha saudade ...
É assim ...como eu.